Usarei o espaço que a mídia está dando ao gênio que criou o Professor Raimundo, para lembrar de um homem que era amigo de Chico e merecia uma homenagem tão grandiosa como essa ao seu falecimento. Chico se foi apenas 5 meses depois do amigo, mas creio que esses meses foram desconfortáveis não apenas pelas internações e maus bocados que passou, mas também pela falta de homenagens e reconhecimento da mídia ao grande José Vasconcellos.
Não venho, de forma alguma, comparar ou disputar os talentos desses dois monstros do humor. Apenas acho que se Chico merece (e merece mesmo) tantas homenagens, o Vasco (como Chico o chamava) também deveria merecer. Mas não foi isso que ocorreu em outubro de 2011. Pequenas notinhas em jornais, alguns rápidos minutos nas emissoras de TV e frases infelizes escritas por jornalistas desinformados, como: "Zé Vasconcelos ficou conhecido pelo personagem gago Ruy Barbosa Sá Silva, que interpretou na Escolinha do Professor Raimundo". BOBAGEM! Ele já era conhecido muito antes disso. Ele era genial, "inventou" o stand up comedy no brasil, incentivou o amigo Chico a faze-lo e lotava teatros antes mesmo de "inventarem" a televisão no Brasil.
Acho que Chico, com o grande coração que tinha (ele dizia que o personagem que mais gostava de fazer era o Professor Raimundo, pois fazia "escada" para os outros brilharem), ficaria feliz se, no lugar das mesmas homenagens de sempre, usássemos esse espaço para prestarmos homenagem a um amigo tão talentoso quanto ele, mas que não teve tanta oportunidade na mídia de hoje.
Abaixo um trecho retirado do livro "Sou Francisco", uma autobiografia de Chico Anysio. Aqui ele narra o episódio de sua primeira participação em uma radio novela, onde tinha que dizer apenas uma fala e foi "salvo" pelo amigo Vasco.
"José Vasconcellos narrou a fala anterior à minha e deixou o espaço lógico para que eu falasse. Eu tentei. Juro que fiz tudo que me era possível para dizer com brilho e segurança minha "Angelina, como demoras!", mas...não deu. Onde a voz ficou presa eu não sei, mas ficou. Devo ter mexido a boca, devo ter "passado" aos demais a minha tentativa e, felizmente, "passei" ao Zé a minha impossibilidade. Ele mesmo, então, "fez" outra voz e disse, firme:
- Angelina, como demoras!
Sentei-me arrasado. Sentia-me o mais incapaz dos radioatores do mundo. Quem conseguiria uma façanha pior, por mais que tentasse? Como eu poderia justificar o absurdo cometido? Tem sentido alguém estrear na rádio sem falar?
- Angelina, como demoras!
Sentei-me arrasado. Sentia-me o mais incapaz dos radioatores do mundo. Quem conseguiria uma façanha pior, por mais que tentasse? Como eu poderia justificar o absurdo cometido? Tem sentido alguém estrear na rádio sem falar?
Dona Geny Marcondes - não sei por que - me perdoou. Alfredo fez que não sentiu, ou coisa por aí. Ninguém me gozou e não me cortaram do programa. Continuei naquela equipe, nas outras vezes falando de verdade, mas aquela estréia muda é inesquecível. José Vasconcellos, sem saber, inventou a dublagem naquela hora.
Somos, o Zé e eu, muito amigos até hoje, mas nunca falamos sobre isso. Ou o Zé nem se lembra mais do fato ou tem vergonha de me cobrar os quinze mil-réis do cachê, porque embora ele tenha falado por mim, quem recebeu o pagamento fui eu."
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