João Valio

João Valio é humorista, improvisador e palhaço. Conheça mais e contrate: www.joaovalio.com.br

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Tempestades

[ATENÇÃO, ESSE NÃO É UM TEXTO DE HUMOR!]

Uma senhora caminha ao lado de um rapaz de roupas brancas por uma colônia de férias no Guarujá.
- Andando por esse salão de jogos a lembrança de Paulo fica mais viva. A gente jogou ping pong algumas vezes naquela mesa ali. Hoje em dia ela está reformada, mas há 20 anos ela estava bem caidinha, tinha umas mancha emboloradas pela umidade do ar. Irônico como comigo aconteceu justamente o contrário, naquela época eu era novinha e linda e agora tenho essas manchas horríveis no rosto...
Incrível como conseguiram deixar a mesa tão novinha né? Eu sei que não trocaram a mesa, é aquela mesma que jogávamos, pois lembro dessa base de metal com a marca "Hudson" gravada. Lembro que Paulo disse algumas vezes: "- Conheço um Hudson, mas ele mora em Manaus, não deve ter ping pong lá!"....
É a única coisa engraçada que já vi saindo da boca de Paulo durante toda a vida. Ele era muito sistemático e ranzinza, reclamava o tempo todo de quase tudo, aquela mesa de pebolim ali, já resistiu a muitas pancadas e esbravejadas de Paulo. As vezes me perguntava porquê ele nos trazia aqui, se nem aqui que é um lugar tranquilo e bonito ele conseguia se acalmar...
Lembro do dia em que ele acordou bem cedo e mandou Eliza ajudar a colocar as cervejas no isopor para irmos a praia. Ela disse "- Mas papai, está chovendo lá fora!". E ele respondeu com um berro assustador, não lembro exatamente as palavras, mas qualquer coisa dita naquele tom assustaria uma criança.
Para Paulo, vir até o Guarujá era ir até a praia todos os dias, faça chuva ou faça sol. Quando chovia ficávamos praticamente sozinhos lá. Eu e Eliza debaixo do guarda-sol, que naquele momento virava um guarda-chuva, e Paulo sentado naquela cadeira de praia velha nem ligando para a chuva dizia "- Eu estou aqui para me molhar mesmo, se tivesse sol eu também estaria molhado de água mar".
Aí vem a nova ironia, como uma pessoa que gostava tanto de água, tem um surto psicótico e resolve atear fogo na casa da própria família?...
Eu evito olhar no espelho sabia? E não é pelas deformações e queimaduras do meu rosto não, é porquê a única coisa que sobrou inteira aqui foram meus olhos, e eles me fazem lembrar da minha pequena Eliza...

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